segunda-feira, 18 de junho de 2012

Taxa de recusa de transplante de órgãos é de 48% no Paraná

Matéria do Jornal Gazeta do Povo

Tomar uma decisão importante em um momento de luto não é tarefa fácil. No Paraná, das 83 famílias que tinham pacientes com morte encefálica declarada no primeiro trimestre deste ano, 40 disseram não às equipes de captação de órgãos e tecidos. A taxa, de 48%, é menor que a nacional, de 64%. Os índices fazem parte de um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).

Nos 24 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, que fazem transplantes (Amapá e Tocantins não dispõem do serviço), das 827 famílias abordadas no primeiro trimestre, 528 não autorizaram a retirada de órgãos dos parentes. A taxa cresceu nos últimos três anos, passando de 21% em 2009 para 34% em 2011. Essa tendência se manteve no Paraná: de 28% de negativas em 2009 para 46% em 2011.

As diferenças são grandes entre os estados. De janeiro a março deste ano, no Maranhão, houve 100% de recusas, enquanto em Rondônia não houve negativas. A diretora da Central de Transplantes do Paraná, Arlene Terezinha Badoch, diz acreditar que a recusa tem inúmeras razões. “Em primeiro lugar, a família não doa porque desconhece a vontade do parente em vida, mas há ainda o temor pela demora em se poder fazer o funeral, o fato de acreditar que o corpo ficará deformado, o medo quanto à credibilidade do hospital e as crenças religiosas”, comenta.

A consolidação do sistema de captação e de transplantes também interfere na decisão. Para o presidente da ABTO, José Medina Pestana, em estados como Amazonas, Sergipe e Bahia, que ainda não operam com a capacidade máxima de suas centrais de transplantes, as negativas são mais frequentes. “Elas não conhecem direito o serviço e tendem a recusar”, comenta.

Abordagem

A forma de abordar a família é um ponto importante. Conforme o membro da diretoria da Associação Internacional de Bioética José Eduardo de Siqueira, muitas vezes a abordagem é equivocada. “Se a família fosse bem acolhida, e por uma equipe multidisciplinar, poderíamos melhorar esses índices”, diz. Conforme Medina, a ABTO faz treinamentos constantes de abordagens de equipes médicas.

A psicóloga Patrícia Bertoncini, que faz a captação de órgãos no hospital Bom Jesus de Ponta Grossa, acrescenta que a família é informada, passo a passo, do estado de saúde do paciente e pode até acompanhar a realização de alguns exames. Quando é constatada a morte encefálica, os parentes são chamados para tomar a decisão. “Eles ou autorizam a doação ou esperam o coração parar. Mas, essa notícia é dada durante todo o processo de reação do paciente à medicação e à sedação, não é de repente. Nós também fazemos o acompanhamento psicológico dos familiares”, explica.

Em algumas ocasiões, é difícil entender que o coração do ente querido bate, enquanto a morte encefálica já foi constatada. Por isso, conforme o professor de Bioética da Universidade Positivo Cícero Urban, muitas famílias não aceitam a retirada dos órgãos. Há ainda, conforme a psicóloga Patrícia, a questão religiosa. “O familiar acredita que vai haver um milagre e o parente vai voltar a viver”, diz.

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