quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Participação coletiva é essencial na gestão da saúde

9º Encontro de Saúde Coletiva de Curitiba, promovido pela Secretaria Municipal da Saúde e que segue até a quinta-feira (11), no câmpus da Universidade Positivo. 
A gestão excessivamente técnica ou burocrática está fadada a não funcionar na área de saúde. Essa foi a principal mensagem de Gastão Wagner de Souza Campos, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos maiores especialistas em saúde coletiva do país. Wagner participou nesta terça-feira (09) do 9º Encontro de Saúde Coletiva de Curitiba, promovido pela Secretaria Municipal da Saúde e que segue até a quinta-feira (11), no câmpus da Universidade Positivo.
No minicurso intitulado ‘O Apoio Institucional como Ferramenta de Fortalecimento da Gestão’, o professor defendeu uma metodologia específica para administrar o setor da saúde, baseada no diálogo e na deliberação de estratégias com usuários e profissionais da rede. “Na saúde, a racionalidade extrema e as regras técnicas podem deslocar a prioridade da atenção ao paciente para a produção de tabelas ou a contagem de cirurgias, por exemplo”, citou. Para Wagner, é preciso que parte dos processos seja criada pelo profissional, sem deixar totalmente de se apoiar em regras preestabelecidas. “Você cria um protocolo para tratar a hipertensão, porém cada paciente é singular: um tem 70 anos e é anoréxico, outro tem 35 anos e é depressivo. O atendimento precisa ser customizado”, exemplificou.
Com o tema ‘Mostra do Trabalho Cotidiano’, o 9º Encontro de Saúde Coletiva de Curitiba vai reunir, nos três dias do evento, cerca de 2 mil servidores da saúde para trocar experiências, debater formas de atuação, gestão e educação permanente.
Boas iniciativas
Além dos espaços em que ocorrem minicursos, rodas de conversa e mesas redondas, dez salas abrigam apresentações simultâneas de iniciativas da própria rede pública municipal. Ao todo, serão mostrados 328 trabalhos nestas sessões, divididas em eixos temáticos e com uma gama de assuntos abrangente – desde a saúde bucal a práticas de enfermagem, passando por ações de integração multiprofissional, gestão e dezenas de outros objetos de discussão.
Para Luciana Paula, que trabalha no CAPS Centro Vida, o Encontro de Saúde Coletiva é rico ao trazer para o conhecimento dos servidores ações inovadoras que ocorrem em outros pontos da própria rede curitibana de saúde. “Trabalho com saúde mental e dependência química, e busquei assistir aos comentários dos pôsteres sobre acumuladores, diabetes e encaminhamentos na área da neurologia. São muitos assuntos diferentes e que ajudam a perceber como podemos adotar novas práticas”, disse.
Um dos trabalhos apresentados na manhã de terça-feira (09) tratou do uso de mapas como ferramentas estratégicas de gestão. Janete Marchetti, que atua na coordenação da unidade de saúde Uberaba de Cima, conta que, logo no início da gestão, identificou a demanda para estudar e reestruturar a área atendida. "Um dos princípios da atenção primária de saúde é conhecer o território e a distribuição da população", salientou. Com o mapeamento da região, foi possível identificar áreas de risco, organizar a atuação dos agentes comunitários de saúde, além de padronizar seus atendimentos e fortalecer o planejamento de ações da US Uberaba de Cima, na qual 60% dos pacientes são dependentes do SUS. "Mesmo que a unidade não esteja propriamente em uma área de risco, pudemos identificar casos isolados que mereciam mais atenção", completou.
Hugo Carlos Pedroso, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), tratou do levantamento feito dos pacientes com surdez decorrente da atuação profissional. "O ruído é a terceira maior causa de perda auditiva, atrás da água e da poluição do ar", salientou. Pedroso explica que todo paciente que vai a uma unidade de saúde com perda de audição tem de informar seu local de trabalho. A partir desse registro, os casos são notificados para que possam subsidiar a atuação da vigilância ambiental. "Só consigo melhorar minha política se tiver uma boa base de dados", disse Pedroso, que informa que a maior parte dos casos de perda auditiva relacionada ao trabalho é de homens, entre 35 e 64 anos, que atuam na indústria da transformação.
Capacitação
A intenção é que o encontro seja bianual e conte com a presença intensiva dos servidores. Entre os temas debatidos neste ano estão estratégias para otimização da atenção especializada no SUS Curitiba, núcleos de saúde coletiva, vivências nos distintos cenários de saúde bucal, humanização, ética e controle social.“Desde o início da gestão estamos investindo na capacitação dos nossos profissionais, que são a grande riqueza da rede. A troca de ideias e de experiências entre as equipes contribui decisivamente para fazer com que o SUS Curitiba oferte uma assistência cada vez melhor à população”, afirma o secretário municipal da saúde, Adriano Massuda.
“Este encontro é uma grande mostra do cotidiano vivido nas unidades de saúde, de pronto atendimento e nos mais diversos serviços de saúde que compõem a rede municipal da saúde”, ressalta Antonio Silveira Filho, coordenador do Centro de Estudo da Saúde.
"A troca de experiência entre os setores é muito rica nesses encontros. Por estarmos imersos na rotina diária, não nos damos conta. Depois ficamos nos perguntando como não notamos as boas práticas antes", comenta Daniele Schiapati, enfermeira da unidade de saúde João Cândido.

Foto: Valdecir Galor/SMCS

Fonte: SMCS

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