quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fórum reúne médicos em Brasília para debater problemas no setor de urgência e emergência

Superlotação, alta demanda em atendimentos, falta de leitos e medicamentos. Essas são algumas das situações enfrentadas pelos médicos que trabalham nos serviços de urgência e emergência do país. Para aprofundar o tema e traçar diretrizes que melhorem e solucionem esses problemas, já considerados críticos, as três entidades médicas nacionais - FENAM, Conselho Federal de Medicina e Associação Médica Brasileira - se reuniram nesta quinta-feira (24/06), com representantes dos Ministérios da Saúde e da Educação, Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASSEMS), no Fórum de Urgência e Emergência, realizado na sede do CFM, em Brasília.

Cenário de guerra
"É um cenário praticamente de guerra. Hoje, temos nas emergências um contingente muito grande de pacientes graves, em situações agudas e que precisam de atendimentos e nós médicos, em um numero muito inferior ao necessário para trabalhar ali, atendendo grandes demandas, muitas vezes ficamos expostos a problemas como ações judiciais, sob alegação de erros médicos. Somos acusados por negligência, imprudência ou imperícia e, na verdade, esses problemas que sofremos não são problemas dos médicos, são problemas do sistema, da gestão, que deveria suprir e acolher todos esses brasileiros que se sentem doentes", desabafou a diretora da Condição Feminina da Federação Nacional dos Médicos, Maria Rita Sabo de Assis Brasil, que representou a entidade na mesa principal do evento.

Maior empregador
"O setor de Urgência e Emergência é uma das principais formas de trabalho médico no setor público, que é o maior empregador de médicos no nosso país. E sofre com problemas gravíssimos, tanto do ponto de vista do exercício da profissão no dia-a-dia em termos de condições de trabalho, quanto na formação necessária para o médico que atua nesse setor. O fórum prevê discutir o aspecto da formação do médico e também a assistência de urgência e emergência no país, e como os médicos, através de suas entidades nacionais, podem contribuir para qualificar e melhorar a assistência médica na urgência e emergência" disse o secretário de comunicação da FENAM, Waldir Cardoso.

Pesquisa
Atualmente, o setor de Urgência e Emergência é considerado como o ambiente de trabalho mais estressante e mal reconhecido pelos profissionais. De acordo com uma pesquisa realizada em 2008 pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ), o déficit de médicos no setor é caracterizado pelos baixos salários oferecidos (34%), sobrecarga de trabalho (24%), falta de condições materiais (20%) e a superlotação nas emergências (22%).

Habilitação
Para a coordenadora da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação, Maria do Patrocínio Tenório Nunes, a qualidade na graduação dos médicos tem grande colaboração para esse cenário. Para ela, é necessário que a formação médica seja implementada em todas as escolas, independente da escolha de especialidade que o estudante vier a fazer.

"O internato médico é o momento do treinamento em serviço apropriado para se adquirir essas habilidades e essa competência, principalmente o tempo efetivo em serviço, atuando, sob supervisão. Penso eu que independente do que você será no futuro, tem de ser habilitado a dar um atendimento de urgência", afirmou a coordenadora.

Formação específica
O presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto D´Ávila, que abordou o tema formação médica durante o fórum, defendeu a atuação nas urgências e emergências apenas por alunos que comprovarem em seus currículos formação específica na área.

"O residente deveria ter uma disciplina específica de medicina de urgência e vamos ter de trabalhar também com a qualificação do título. A minha ideia é que só se possa trabalhar na emergência quem apresentar formação específica em urgência de cardíacos, traumatizados, crianças. É a única maneira de melhorar o atendimento no país. É preciso adequar os programas para eles (os alunos) estarem prontos para esse atendimento, independente da sua especialidade. Somos médicos antes de sermos especialistas, e somos todos "emergencistas" por vocação e por profissão, então não temos como fugir disso", defendeu D´Ávila.

Atenção pré-hospitalar
O professor e diretor geral do Núcleo Multidisciplinar de Estudos sobre Acidentes de Tráfegos da Universidade Federal de Santa Catarina (NATSAUDE/UFSC), Wilson Pacheco, também defende que a formação médica em urgência é importante e que o treinamento para a atenção pré-hospitalar, que envolve o atendimento ambulatorial de emergência, também deve ser dado durante a faculdade.

"Vejo uma deficiência enorme na doutrina e em termos de capacitação. A universidade não dá nem para o enfermeiro, nem para o médico, uma doutrinação do trabalho fora do ambiente hospitalar, inclusive na questão da sua própria posição na questão do atendimento. Nós não estamos acostumados a trabalhar de joelhos e no pré-hospitalar é assim que se trabalha", destacou Pacheco.

A formação médica de maior qualidade, com treinamentos mais específicos nas áreas de urgência e emergência, foi unanimidade entre os debatedores. Entretanto, na prática, poucas escolas oferecem a disciplina.

Criação e reconhecimento
Outro ponto de debate foi a criação e o reconhecimento da medicina de urgência como especialidade médica. Para a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMED), a criação e o reconhecimento da Urgência e Emergência como especialidade médica seria a solução para os problemas enfrentados atualmente no setor.

"Quem é o médico que trabalha nas urgências e emergências? Primeiro, é um médico recém-formado, ou seja, com todas as dúvidas que o aprendizado do seu curso lhe traz, ou então, um senhor que volta em outro momento, no final da carreira para trabalhar, ou seja, não há uma preparação formal para o profissional que está na emergência e ele deveria ser o mais capacitado e o mais habilitado. Então, é importante a medicina de emergência como especialidade médica", argumentou Frederico Arnaud, presidente da entidade.

Avaliação
O assunto já foi apresentado à Comissão Mista de Especialidades, formada por dirigentes do CFM, da AMB e do Ministério da Educação, que já designou um relator para avaliar as necessidades da criação dessa especialidade e para estudar se todas as regulamentações exigidas estão sendo cumpridas.

"Eu, particularmente, acho que o médico precisa de um treinamento adequado nessa área, ser atendido por uma pessoa competente, que tenha discernimento, conhecimento e habilidade no momento da emergência; isso é inquestionável. Acontece que nós temos regras que precisam ser observadas antes de decidir. A Comissão designa um relator, que faz o estudo e leva para nossa reunião. Mas eu creio que após a AMB se pronunciar, vamos poder decidir", explicou o coordenador da Comissão, Antônio Gonçalves Pinheiro.

Organização e capacitação
Enquanto isso, a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Beatriz Dobashi, apresentou, durante o evento, as propostas da entidade para tentar resolver a situação do atendimento nas Urgências e Emergências. Para ela, além de um melhor financiamento para o Sistema Único de Saúde (SUS), é necessário organizar os serviços e capacitar as equipes.

"Temos discutido, principalmente, as organizações dos serviços de saúde em rede, e isso significa fortalecer a atenção básica nos territórios municipais, organizar nas regiões uma atenção especializada, tanto ambulatorial quanto hospitalar, e deixar as referências de alta complexidade em pólos regionais. Isso desafogaria as salas de urgência e emergência. Precisamos de mais financiamento, de mais gestão, de melhoria na formação dos profissionais, de organização dos serviços e de capacitação das equipes", finalizou Beatriz Dobashi.

Fonte: FENAM

Nenhum comentário:

Postar um comentário