terça-feira, 6 de agosto de 2013

SUS atende 80% da população, mas só tem 50% dos equipamentos

Matéria do Jornal Gazeta do Povo

Metade dos aparelhos médicos do país está na rede privada, que acolhe apenas 20% dos pacientes

Apesar de assistir 80% dos brasileiros que procuram atendimento médico, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem à disposição a metade dos equipamentos clínicos em operação no país. No caso de aparelhos para diagnóstico por imagem, a situação é pior: apenas um terço do total serve ao SUS, segundo o banco de dados do Ministério da Saúde. Proporcionalmente à demanda, existem mais equipamentos alocados na rede privada do que na pública. A única exceção é na área de manutenção da vida, como respiradores mecânicos, reanimadores e desfibriladores. Aproximadamente 67% dos 515.596 equipamentos estão a serviço do SUS.

No Paraná, o panorama é semelhante. Perto de 50% dos aparelhos são usados no atendimento público e 33% dos 8.682 equipamentos de diagnóstico por imagem (raio-x, mamografia e ecografia, por exemplo) pertencem ao SUS. Outro problema é a distribuição desigual dos aparelhos. No Paraná, 37% dos equipamentos por imagem, por exemplo, se concentram em seis das maiores cidades do estado (veja infográfico).

Para o presidente do Con­selho Regional de Me­di­cina do Paraná (CRM-PR), Ale­xandre Bley, os números demonstram a necessidade de o poder público investir mais em estrutura para dar condições de trabalho aos médicos. “Com o avanço da tecnologia, equipamentos para a realização de exames são necessários para evitar possíveis erros. Mas o governo não disponibiliza esses meios para que possamos trabalhar de forma adequada na saúde pública”, explica.

Argumento

A falta de estrutura de trabalho é o principal argumento da classe médica para justificar o baixo índice de profissionais nas periferias do país. No Paraná há uma média de 1,87 médico para cada mil moradores, segundo o estudo Demografia Médica no Brasil, do Conselho Federal de Medicina (CFM). Se levar em contar apenas profissionais que atuam no SUS, a taxa no Paraná cai para 1,06.

No Brasil, a proporção de profissionais na saúde pública é a metade da taxa total. Enquanto no SUS a razão é de um 1,11 médico para cada mil habitantes, a relação nacional é de 2 para cada mil. Na Argentina, por exemplo, a média é de 3,2 médicos por mil moradores.

A desigualdade na distribuição dos profissionais fica evidente quando se compara municípios de diferentes portes. Curitiba, por exemplo, tem 5,7 médicos por mil moradores enquanto a média em cidades de 10 mil a 50 mil habitantes no estado é de 0,6.

Segundo Bley, a baixa qualidade de vida de algumas cidades e a falta de perspectiva de uma carreira no SUS também afastam os profissionais. “Hoje a contratação dos médicos é, na maioria dos casos, terceirizada. Não existe um plano de carreira.”

Equipamento não é desculpa para falta de médico, diz especialista

A professora do Depar­ta­men­to de Saúde Coleti­va da Universidade de Brasília (UnB), Ximena Pamela Bermudez, é categórica ao afirmar que equipamentos não são suficientes para salvar vidas. “Primeiro precisamos de médicos onde não tem. A ideia de que a tecnologia resolve tudo é equivocada”, ressalta. Segundo o Ministério da Saúde, 80% dos problemas de saúde podem ser resolvidos na atenção primária, com ações de prevenção e diagnóstico precoce.

“A medicina é uma ciência voltada ao lado social, para salvar vidas. Se tivesse médico em lugares remotos do país haveria atenção básica pelo menos”, diz Ximena. “Infelizmente, os médicos não vão para cidades de menor porte. Há falta de conhecimento sobre essa necessidade. Muitos ainda têm uma visão individualista e, até mesmo, mercantilista da profissão”, afirma a professora.

Trabalho

O presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Luis Eugenio Portela, acredita que a falta de médicos não se trata especificamente da falta de equipamentos, mas também das condições de trabalho. “Por condições de trabalho, entendo desde salários e carreiras passando pela questão da falta de organização de redes integradas de serviços”, diz. Segundo ele, a má distribuição de riqueza no país interfere no processo. “Se as cidades do interior tivessem melhores condições de vida, com boas escolas, bons cinemas, bons shopping centers, certamente, teriam bons centros de saúde e atrairiam muitos médicos”.



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