sexta-feira, 25 de julho de 2014

Uma vela na escuridão 3: presidente da FENAM defende a luta contra o obscurantismo


                                          Foto: Divulgação/Fenam

Faço a transcrição de uma postagem de uma colega, a respeito da greve que o Sindicato dos Médicos lidera em Natal, no Rio Grande do Norte, e a pressão do poder para acabá-la, silenciando a manifestação dos médicos, que pedem socorro para si e para a população.

"E ainda tem gente que se engana que não estamos numa ditadura. Um dia desses ouvi um morador, que teve perdas nas chuvas no início da Copa, relatar uma intervenção da polícia ao movimento dos moradores com lares afetados. Hoje, enquanto nos manifestávamos em frente à Maternidade das Quintas foi a vez de um oficial de justiça, se valendo de notificação, interromper entrevista que o Sindicato dos Médicos estava concedendo à TV local sobre a greve e, logo após chega a polícia. Porquê a polícia não chega tão rápido quando comunicamos que levaram nosso carro à mão armada? O tal do sistema não é de Deus! E a Deus o entrego porque sou pequenina demais para ele".

Apesar da colega ter se identificado na postagem, já que era para um grupo de médicos, aqui ficará preservado o seu nome.

O obscurantismo se alastra pelo País. Incentivado por governos que não acreditam no estudo, na ciência, na técnica, campeiam grupos de pressão, formados por minorias militantes, fanáticas e prontas para as intervenções e as manifestações mais esquisitas. Com a complacência da imprensa, que na ótica de ouvir os dois lados finda misturando verdades comprovadas com opiniões pessoais, ciência com charlatanismo e técnica e conhecimentos com misticismo e fanatismo, mergulhamos no caldo do obscurantismo que ameaça o mundo construído a partir do Cristianismo, do Iluminismo e da Revolução Industrial e Tecnológica, culminando com o Advento da Democracia, onde cabe aos governos administrarem segundo a vontade expressa dos desejos da maioria dos cidadãos. No obscurantismo dos dias que atravessamos, a pressão das minorias silenciou a voz da maioria, que abalada vê seus direitos solapados.

O obscurantismo também mata o cidadão. Pouco interesse ele desperta, se não pertencer a um grupo de pressão. Importa ao governo desmoralizar o indivíduo, fazendo com que ele desapareça em alguma coletividade, manipulada pelos interesses desse mesmo governo. Com isso não podemos conciliar, silenciar é a pior resposta, temos que ir para o bom combate.

Bem dizia o grande Ulysses Guimarães - Foi o homem quem derrotou Hitler. Derrotaram-no as nações baseadas na liberdade e nos direitos humanos, em que o homem é o fim e não o meio.

O obscurantismo está ao nosso lado, nas mais simples situações e manifestações, como a revelar seu enraizamento profundo. Ele se apresenta faceiro na hora em que uma marionete assume um sindicato que deveria defender e proteger o médico, e serve a interesses partidários e ao usufruto pessoal, na hora em que alguém é cooptado por vantagens financeiras para cargos de chefias em locais que afrontam a luta e a dignidade do trabalho médico, destruindo os sonhos de carreira, estabilidade, piso Fenam, paridade com os aposentados e tudo que foi conquistado a suor e sangue pela luta dos bons que nos  antecederam.

O obscurantismo está no uso do poder para cercear direitos, impedir manifestações ou greves legítimas e pacíficas em defesa dos interesses da categoria ou da sociedade. O obscurantismo está nos que tentam dividir o País e a sociedade entre nós e eles, ou as pessoas em cotas, cores, sexualidade. O obscurantismo muitas vezes está na informação ou no conhecimento, que recolhido, é julgado, manejado, torturado e aplicado segundo interesses que o falsificam e desfiguram, criando uma fantasia. O obscurantismo está nos que tentam impor o pensamento único e se julgam portadoras do monopólio da verdade. Quanto mais isso evolui, mais nos aproximamos do totalitarismo e da ditadura.

Por isso urge lutar. Mesmo com nosso jardim pisoteado e as ameaças aos nossos direitos, a busca da verdade não pode calar. O obscurantismo é inimigo da verdade. No dizer de Carl Sagan - Queremos buscar a verdade, não importa aonde ela nos leve. Mas para encontrá-la precisaremos tanto de imaginação quanto de ceticismo. Não teremos medo de fazer especulações, mas teremos o cuidado de distinguir a especulação do fato. E fechando magistralmente, arremata. Se formos enganados por muito tempo já não nos interessamos em descobrir a verdade. O engano nos aprisionou.

Não vamos deixar o obscurantismo prevalecer, seria o caminho para uma idade das trevas.


*Geraldo Ferreira é Presidente da FENAM e do Sinmed-RN 

Fonte:FENAM

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