terça-feira, 1 de setembro de 2015

Paciente em coma só consegue vaga em UTI após o terceiro mandado judicial


Foto: Agência O Globo / Fernando Lemos 


Segundo matéria do O Globo, pacientes precisam recorrer à Justiça para conseguir vagas na rede o Rio de Janeiro, e mesmo assim, nada é garantido. Segue abaixo as informações oferecidas pela publicação.

RIO – O caminho de pacientes em busca de um leito para internação na rede pública de saúde do Rio é cheio de percalços. Com déficit diário de 200 leitos apenas nas UTIs, segundo dados do Conselho Regional de Medicina, parentes de doentes em estado mais grave recorrem à Justiça para conseguir uma vaga e, mesmo assim, não têm garantia de atendimento. A família da auxiliar contábil Maria Leonor Alves Teixeira, de 57 anos, precisou de três mandados judiciais para conseguir um leito. Ela estava desde segunda-feira na UPA de Rocha Miranda, com pneumonia. O quadro era tão delicado que ela estava em coma induzido. Apenas na noite de sábado a transferência para a UTI do Hospital Municipal de Acari foi autorizada.

- Minha mãe estava com o sistema imunológico fraco, acabaria morrendo dentro daquela sala por causa dos outros pacientes, que chegavam doentes. Ela ficou três dias sem tomar banho - contou Tabata Clarina Alves de Souza, de 26 anos, filha de Maria Leonor.

Há cerca de 1,1 mil leitos de UTI no estado, que registraram 18,8 mil internações em 2014. A cada plantão de 24h, segundo o Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (Sinmed-RJ), uma emergência em um hospital estadual recebe cerca de 120 solicitações de transferência para leitos de tratamento intensivo. A estimativa do sindicato é que menos de 20% são atendidas. Presidente da entidade, Jorge Darze ressalta a incapacidade operacional das centrais que regulam os leitos:


- A situação é gravíssima e criminosa, pois o poder público tem ciência e não toma as medidas para aumentar os leitos, expondo o paciente a uma situação de risco permanente. É inquestionável a incapacidade das centrais de regulação de leitos. Mesmo sob ações judiciais, elas não têm o que fazer. Trabalham com os leitos e os médicos que têm.

A decisão de Tabata procurar a Justiça ocorreu quando um dos pulmões de sua mãe entrou em colapso. Sua baixa capacidade respiratória e a falta de previsão de quando um leito ficaria disponível levaram a família ao desespero. O problema obrigou a equipe médica da UPA a entubá-la. E, diante da seriedade do estado de saúde de Maria Leonor, Tabata recorreu aos tribunais. Era um sopro de esperança, já que pacientes que procuram leitos de UTI no Sistema Nacional de Regulação (Sisreg) com mandados judiciais em mãos entram em uma fila que anda mais rápido.

O Sisreg é um software on-line, criado pelo Ministério da Saúde para gerenciar da rede básica à internação hospitalar. O sistema é ligado às centrais estadual (CER) e municipal (CRM) de regulação, que administram a demanda em suas devidas áreas.

Em janeiro deste ano, para otimizar a procura por vagas na rede pública do estado e do município do Rio, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, o governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes, com seus respectivos secretários de saúde, acertaram a criação de uma Central Única de Regulação do Sistema Público de Saúde no Rio. Essa unidade, conforme informou a Secretaria de Estado de Saúde, ainda não funciona de forma completa. Até hoje, quase oito meses após a assinatura do acordo, saíram do papel apenas alguns pontos elaborados, como a Reuni-RJ, que regula procedimentos ambulatoriais de alta complexidade (como gestação de alto risco, cirurgias bariátricas, radioterapia, hematologia e terapia renal).

A incapacidade de o sistema absorver todos os pacientes faz com que juízes que expedem os mandados judiciais de internação lancem mão da rede hospitalar privada.

- Os hospitais particulares são complementares e devem ser solicitados. O estado arca com os custos da internação. A legislação do SUS assegura isso - disse Darze.

No caso de Maria Leonor, os mandados judiciais não foram a única aposta de sua filha. Tabata se valeu também de um velho amigo que trabalha no Hospital de Acari. Ele aplacou a angústia da família ao descobrir que no local havia três leitos vagos. Comunicada sobre a história pela reportagem, na sexta-feira passada, a Secretaria municipal de Saúde tomou providências para que a assistente contábil conseguisse um dos três leitos. Foi o que aconteceu.

Os primeiros boletins médicos recebidos pela família no hospital revelam que o quadro de Leonor não evoluiu, mas Tabata não esconde que as esperanças aumentaram.

- A situação ainda requer muito cuidado, tanto pela pneumonia quanto pelo pulmão debilitado, que está com muita secreção - afirma. - Mas estamos sendo muito bem atendidos. A transferência nos fez acreditar que a cura é possível.

Fonte: O GLOBO - 31/08/2015

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