segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Entidades querem instruir médicos no combate ao crack

Fórum abordou a vulnerabilidade social relacionada ao uso da droga, os aspectos jurídicos e a atuação do MEC dentro das escolas.

Você saberia para onde encaminhar os usuários de crack que desejam obter tratamento? Sabe o que é uma política de redução de danos? Conhece algum protocolo de assistência integral ao usuário de crack? A fim de responder essas perguntas e mobilizar médicos e a sociedade civil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) promoveu o I Seminário Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso do Crack, com o objetivo de traçar, em conjunto com as entidades médicas e governamentais, diretrizes eficazes para o tratamento da dependência do uso da droga.

"Precisamos sensibilizar os médicos e cidadãos a se envolverem nesta questão. Não podemos ficar só na oratória, queremos partir para a ação e é este o objetivo do Fórum, transformar as ideias em ações reais após as discussões," ressaltou o presidente do CFM, Roberto D´Avila.

Presente no evento, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Cid Carvalhaes, ressaltou a importância e o papel das entidades médicas na elaboração dessas diretrizes. Segundo ele, o combate ao uso do crack e de outras drogas é um problema de saúde pública e as entidades médicas têm obrigação de procurar encaminhar soluções.

"Nada mais eficiente do que a princípio, entender melhor a profundidade do assunto e seminários desta natureza se mostram adequados e eficientes ao cumprir este tipo de fundamento. Temos que partir do pressuposto que os Governos se obrigam necessariamente a dar seguimentos mais sólidos a estas questões, mas o papel das entidades médicas, especialmente da FENAM, é acompanhar isso com todo interesse, participar das iniciativas com empenho, fazer os encaminhamentos políticos que lhe competem e tentar traçar estratégias de ação para que o problema seja enfrentado com o maior resultado possível," apontou Cid Carvalhaes.

Papel do Estado

A responsável Técnica pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas da Presidência da República (SENAD), Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, apresentou as principais políticas do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras drogas, instituído pelo Decreto 7179/10 que tem como objetivo a prevenção do uso, ao tratamento e à reinserção social de usuários e ao enfrentamento do tráfico de crack e outras drogas ilícitas. De acordo com ela, na próxima semana uma campanha de mobilização social será lançada para o engajamento ao Plano, que visa uma ação permanente de mobilização envolvendo profissionais e veículos de comunicação.

"Será uma campanha de esclarecimento à população para informar como o crack pode ser devastador, mas também que pode ser tratado e curado, demonstrando que o crack não é uma sentença de morte."

Críticas ao modelo adotado pelo Governo e falta de leitos em hospitais

Já o pesquisador, coordenador e diretor científico do Instituto Nacional de Politicas sobre álcool e drogas (Inpad/CNPQ), Ronaldo Laranjeira, criticou o modelo adotado pelo Governo. Segundo ele, o Governo Federal adotou um único modelo de tratamento de dependência química, o ambulatorial, insuficiente na opinião do pesquisador para tratar de uma doença tão complexa. Ainda de acordo com Laranjeiras, é necessário que existam vários outros recursos que possibilitem o tratamento dos dependentes, uma vez que um terço dos usuários de crack que não recebem tratamento adequado, morrem.

"É uma doença com alta taxa de mortalidade e que precisa ter vários outros recursos para que, aquela pessoa que precise se tratar e não consiga, tenha a possibilidade de ser internada no serviço público, o que ainda não é possível. O Ministério da Saúde não financia a internação para os dependentes no serviço público e isto é um erro."

Outro ponto debatido foi a falta de leitos para estes pacientes. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada recentemente constatou que o número de leitos para internação caiu de 2,4 para 2,3 por mil habitantes, de 2005 a 2009 , ficando abaixo do recomendado pelo ministério, entre 2,5 e 3. Nesse período, o Brasil perdeu 11.214 leitos, uma queda de 2,5%.

De acordo com o coordenador do Fórum, Ricardo Paiva, médicos sofrem por não ter onde internar seus pacientes. "O que mais acontece hoje em dia é sermos procurados por pacientes em busca de internação para saírem da crise de intoxicação aguda e para receberem medicamentos e não há. O Governo mostra que está tudo resolvido, mas no papel, não na prática."

Abordagens Epidemiológicas

De acordo com pesquisadora Ana Cecília Marques, da Unidade de Dependência de Drogas do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o uso de crack está cada vez mais precoce. A pesquisadora apresentou durante o evento uma analise epidemiológica dos usuários de crack e apontou que os principais fatores que desencadeiam o uso da drogas por adolescentes, são a curiosidade, a pressão dos amigos, a desestruturação familiar e falta de informação. Segundo ela é necessário uma política especifica para este publico, especialmente dentro das escolas e universidades.

"O uso de crack se inicia cada vez mais cedo, se alastra por todo o país e por todas as classes sociais. A política ideal é que se use a escola como instrumento de discussão e traga a comunidade de pais para dentro desses ambientes. Nessa coalizão vai ser possível criar um modelo de proteção para os estudantes."


Fonte: FENAM

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