quinta-feira, 31 de maio de 2012

Hospitais federais na corda bamba

Matéria do Jornal Gazeta do Povo

Greve no HC evidencia a importância estratégica das instituições universitárias, responsáveis por procedimentos de alta complexidade, pesquisa e formação.

A paralisação do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná nesta semana expôs, mais uma vez, a fragilidade da saúde pública brasileira. O movimento dos cerca de 300 médicos servidores federais do HC contra a Medida Provisória (MP) n.º 568/12, que altera o sistema de remuneração dos profissionais da área, causou a suspensão de 3 mil consultas e 42 cirurgias previamente agendadas. Um prejuízo imenso em um setor tão sensível a qualquer movimento abrupto.

Os três dias de greve evidenciaram a importância dos hospitais públicos universitários e a necessidade de mais investimentos no setor. Segundo especialistas em gestão da saúde, a MP tem grandes chances de prejudicar ainda mais as funções dos hospitais universitários públicos do país. Além de prestar atendimento gratuito à população, essas instituições desenvolvem pesquisa, formam profissionais da área e realizam procedimentos de alta complexidade.

“A partir do momento em que o Estado não dá as condições satisfatórias para que médicos e enfermeiros realizem as pesquisas em hospitais universitários, há agravamento do risco de que os melhores cientistas e pesquisadores saíam do país para realizar suas pesquisas em condições adequadas. Coisa que já acontece hoje”, explica o doutor em Direito do Estado e procurador do estado do Paraná Fernando Borges Mânica, autor dos livros Parcerias na Saúde e O Setor Privado nos Serviços Públicos de Saúde.

Isso significa que há o risco de procedimentos de alta complexidade, como transplantes de medula, no qual o HC da UFPR é um dos pioneiros e é considerado referência nacional e na América Latina, sejam colocados em segundo plano ou, pior, deixem de ser realizados por falta de equipe técnica qualificada. “Os hospitais universitários hoje têm uma relevância grande para o Sistema Único de Saúde [SUS]. É verdade que são caros, mas é exatamente porque eles têm uma missão especial. Eles são responsáveis por cerca de 30% dos procedimentos de alta complexidade”, explica o professor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB) Antônio José Costa Cardoso.

E como a MP diz respeito a médicos do serviço público federal, não se pode descartar a paralisação e a perda de grandes pensadores da área médica também em outros hospitais universitários do país. “Com um hospital do porte do HC parado, e se outros hospitais como o de Santa Catarina e o de Pernambuco pararem, corre-se o risco da alta complexidade no país paralisar, já que há muitos procedimentos que os particulares não fazem, mas que os universitários, como o HC, fazem”, afirma o coordenador do curso de Gestão Pública da UFPR e doutor em Direito, Christian Mendez Alcantara.

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