quarta-feira, 23 de maio de 2012

Hospital das Clínicas vai parar na 2.ª feira

Matéria do Jornal Gazeta do Povo.

Médicos farão greve em protesto contra medida provisória que reduz pela metade salários de novos profissionais

O Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR) deve paralisar seus serviços na próxima segunda-feira em protesto contra uma Medida Provisória (MP) que reduz salários dos médicos do sistema público federal. No total, 300 médicos (91%) de um total de 329, deixarão de trabalhar até a quinta-feira seguinte em uma tentativa de fazer com que o Congresso derrube a MP n.º 568, editada em 11 de maio, que reestrutura as carreiras de servidores federais.

De acordo com o chefe do Setor de Urgência e Emergência do HC, Eduardo Ferreira Lourenço, todas as cirurgias e consultas eletivas serão canceladas, assim como os exames laboratoriais. Apenas o setor chefiado por ele, que atende cerca de 70 pessoas/dia, continuará funcionando. Diariamente, são realizadas 1,5 mil consultas, além de 5 mil procedimentos que incluem cirurgias e exames clínicos. Quem tiver cirurgia ou exame marcado deve procurar a rede pública municipal ou estadual, ou então remarcar os procedimentos.

Impasse

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Salário dos novos

Com a MP, o salário inicial de um médico com jornada de 20 horas semanais passaria de R$ 2,8 mil para R$ 1,4 mil, e aquele com jornada de 40 horas, de R$ 5,6 mil para R$ 2,8 mil. Ou seja, o médico que iniciasse a carreira a partir da MP precisaria trabalhar o dobro para ter a remuneração base de quem hoje trabalha 20 horas semanais: uma redução salarial de 50%.

Para os que já atuam

Se um médico ganha hoje R$ 4,5 mil por uma jornada de 20 horas semanais (contando reajustes e gratificações), seu salário-base passaria a ser de R$ 1,4 mil, com a adição de uma Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI) de R$ 3,1 mil, correspondente ao valor restante. Os reajustes posteriores, porém, se dariam apenas sobre o salário-base, e a VPNI teria valor fixo, do qual seriam descontados reajustes e adicionais de progressão. O salário total ficaria inalterado até que o VPNI correspondesse a 50% da tabela original.

Adicionais fixos

O adicional de insalubridade é calculado em uma base de 5% a 20% do salário. A partir da aprovação da MP, o adicional de insalubridade passaria a ser fixo, correspondendo a um mínimo de R$ 100, e a um máximo de R$ 260, e o de periculosidade passaria a ser de R$ 180.


A revolta dos médicos é com a redução dos vencimentos da categoria – com a MP, quem iniciasse a carreira hoje no serviço público federal ganharia a metade do que o colega admitido anteriormente, mesmo com jornada de trabalho igual, de 20 ou 40 horas semanais. E quem já atua passaria a ter um salário-base 50% menor, acrescido de uma vantagem, correspondente aos 50% restantes, que não sofreria reajustes. Adicionais de periculosidade e insalubridade teriam um valor absoluto fixo, em vez de corresponderem a até 20% do salário.

“Em médio prazo, ninguém se interessará por atuar no serviço público, e a qualidade [do serviço] cairá drasticamente. O médico trabalhará mais, tanto no setor público quanto no privado, e todos os pacientes serão prejudicados”, avalia Lourenço, que atua no HC e é um dos relatores da comissão que discute a MP com os médicos da instituição.

Perda de talentos

Na opinião da direto­ra-geral do HC, Heda Amarante, a medida pode trazer graves consequências para o setor público de saúde, que terá menos incentivos para que recém-formados prestem concurso na área. “Isso é muito grave, visto que são esses hospitais-escola os que realizam procedimentos de alta complexidade, como neurocirurgia, cirurgia cardíaca e transplantes. Quantos profissionais capacitados ficarão nesses hospitais?”, questiona Heda.

O presidente do Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná, Mario Antonio Ferrari, diz que entidades de todo o país devem se organizar para pedir que a MP seja derrubada. “Não se trata de privilégio, mas sim de garantir respeito à classe médica e qualidade de atendimento.”

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